sábado, 9 de agosto de 2014

Homem na cozinha

Quando eu tinha cerca de 15 anos, meu pai decidiu que minha mãe merecia uma folga da cozinha aos domingos, e que nós, ele, eu, e minhas irmãs mais novas é que seríamos os cozinheiros nesse dia.
Na época, eu mal sabia fazer um bolo (lendo a receita no livro), e minhas irmãs, menos ainda. Quanto ao meu pai, não lembro de tê-lo visto na cozinha antes. Mas ele tinha idéias próprias sobre culinária e organização.
Ele dividiu-nos em duas equipes: eu e minha irmã de 11 anos seríamos os "chefs" em uma semana e, na seguinte, seriam ele e a outra irmã, de 10 anos . A equipe que estivesse "de folga" limparia a cozinha depois.
O cardápio? Bem, o que quiséssemos: tínhamos em casa uma coleção de livros de culinária, e ele providenciava os ingredientes que pedíssemos. Como grandes "chefs" que éramos, sempre escolhíamos coisas complicadas, e nunca deixávamos de fazer uma sobremesa.
Como era de se esperar, transformávamos a cozinha em um verdadeiro campo de batalha, com ovo e farinha por todo lado. A quantidade de louça suja era o triplo do razoável, e os nossos resultados nem sempre agradavam: lembro de arroz queimado e macarrão cozido demais. A comida nunca ficava pronta no horário, porque não conseguíamos coordenar todas as tarefas a serem feitas. Mas a porta da cozinha ficava fechada; minha mãe era proibida de entrar (e ver o desastre).
Talvez por sermos muito jovens, eu e minha irmãs não demos bola para os nossos insucessos culinários dessa época. Hoje, todas nós temos uma ligação forte com a cozinha. Entre risadas, vencemos o medo de errar e descobrimos o prazer de cozinhar em família.
O talento culinário do meu pai se revelou nessa época, e mais tarde, quando as filhas casaram e a família aumentou, ele assumiu isso de vez. Aos sábados, nos reuníamos na sua casa, e ele é que cozinhava. E sempre receitas especiais e trabalhosas: bobó de camarão, pirogue, pizza (cuja massa ele mesmo preparava), macarronadas. Sempre pratos salgados.
De doces, também gostava, mas nós é que fazíamos para ele. Se ainda estivesse aqui, tenho certeza de que adoraria este bolo de ricota...


Bolo de ricota fácil
1 lata de leite condensado
2 latas de leite
4 gemas
4 claras
1/2 kg de ricota
4 colheres(de sopa) de açúcar
3 colheres (de sopa) de amido de milho (maizena)
1 colher (de chá) de essência de baunilha
Margarina para untar

Bata no liqüidificador as gemas, o leite condensado, o leite, a ricota, o amido de milho e a baunilha. À parte, bata as claras em neve e junte delicadamente à mistura batida no liqüidificador. Coloque em uma foram untada com margarina e leve ao forno pré-aquecido para assar por uma hora, ou até ficar seco e com a suoerfície dourada. Retire do forno e polvilhe com açúcar. Sirva com a geléia de sua preferência.

4 comentários:

Anônimo disse...

Minha amiga...

Gosto da idéia de você ser uma bruxa... se a bruxaria está relacionada aos alimentos, às ervas aos cuidados com os animais... penso que todos um pouco bruxos...
Amar é transformar.... é saber equilibrar... e a cozinha é uma espécie de amor... pois todo excesso seja ele de sal, ou temperos, pode comprometer os resultados!

Continue envolvendo poesia, com histórias e culinária, certamente é uma mistura que dá certo!!!!

Depois publique um livro!!!!

Bjos, saudades!

Pati

Anônimo disse...

Também não podemos esquecer que ficar no grupo da limpeza era terrível, pois a cozinha ficava com farinha até no teto, posso lembrar o dia que abrimos um armário de louças, e encontramos farinha lá dentro(fruto do nhoc feito pelo pai e eu no domingo).
É bom lembrar do que foi muito bom...
Valeu
Cíntia

Tuca disse...

Taís
Fiquei emocionada com a história que contou. Parabéns pela iniciativa.
Estou esperando mais receitas, rsrsrsrs...
Bjos
Tuca

Anônimo disse...

Taís.

Me lembrei de uma poesia do Fernando Pessoa: "Dobrada à Moda do Porto", onde ele se refere ao cozinheiro como "missionário da cozinha".
É essa alquimia que nos dá tanto prazer e nos torna tão poderosas!
Viva nós!!!!!!